segunda-feira, 25 de junho de 2012

Diferentes matérias orgânicas são utilizadas como fonte de energia

 

Cana-de-açúcar, borra de café e até esterco de porco cumprem essa função

 

Katia Tannous, da Unicamp, com pesquisadores
da sua equipe (Foto: Divulgação)

 

Biomassa é toda fonte de energia alternativa que utiliza matérias orgânicas para a sua produção. No Brasil, uma das mais utilizadas é a da cana-de-açúcar, no entanto, há uma série de outras fontes orgânicas que podem ser usadas, como o coco verde, a casca do arroz, a borra de café e até o esterco. A descoberta de novas fontes de biomassa, que permitiria o Brasil diversificar suas fontes energéticas, é o objetivo de pesquisadores como a professora da faculdade de Engenharia Química da Unicamp Katia Tannous.

De acordo com ela, cada região do país tem suas potencialidades de biomassa. Por exemplo, na Região Sudeste, há o bagaço da cana-de-açúcar; no Sul, a concentração maior é a casca de arroz; e no Norte, existe a fibra do coco e o caroço do açaí. Tannous, por sinal, se mostra animada com o potencial do coco verde, tão tradicional nas praias brasileiras.

“O coco verde existe em abundância no Brasil, e é jogado praticamente inteiro fora. Toma-se a água, come-se a carne e o resto é lixo. Somente 10% é utilizado pela indústria. Quando você mói a fibra do coco, integrada a ela, há um pó, chamado pó de coco. Esse pó de coco é altamente poroso, fantástico para a absorção”, afirma Tannous. Tanto a fibra quanto o pó podem ser queimados para gerar energia elétrica. Outra possibilidade é o desmembramento da fibra em fibra e em pó, que pode ser utilizado como material absorvente para melhorar a qualidade da água dos rios.

Segundo Tannous, a casca do arroz também tem suas utilidades. Nas usinas de beneficiamento do arroz - processo que envolve etapas como descascamento, homogeneização e classificação - a casca serve como fonte de calor para a secar o próprio arroz. Mais recentemente, ela adquiriu uma nova função e começou a ser queimada em termelétricas para a produção de energia elétrica renovável.

Típica da região Norte, a castanha-do-brasil, mais conhecida como castanha-do-pará, também está sendo utilizada como combustível. O ouriço, fruto da castanheira, que reúne de 11 a 22 amêndoas, serve como lenha em usinas térmicas e caldeiras. Na forma de subprodutos, como carvão vegetal, por exemplo, é usado em siderúrgicas para produzir o chamado “aço verde”.

Uso de semestes para produzir biodiesel
 
Em 2004, o Brasil lançou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e, em 2005, a Lei 11.097/05, que estabelece percentuais mínimos de mistura de biodiesel ao diesel. Hoje, todo diesel vendido no Brasil tem 5% de biodiesel.

Na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), a professora de Produção e Tecnologia de Sementes Marcela Carlota Nery busca melhorar as sementes de nabo forrageiro e de crambe - um tipo de oleaginosa - para começar a cultivá-las em Minas Gerais. Ela enxerga potencial de produção de biodiesel a partir destas duas culturas, já que as sementes têm entre 30% e 40% de teor de óleo.

Já a engenheira química Denise Moreira dos Santos, quando pensou em sua pesquisa de Mestrado, buscava um resíduo que pudesse ser fonte de biodiesel. Optou por algo muito presente no cotidiano de grande parte da população mundial. “Pesquisei vários resíduos, como cascas, grãos e outros, e cheguei no café. O grão de café não é uma oleaginosa, mas possui uma grande quantidade de óleos essenciais”, explica Denise. Depois que o café está pronto, é chamado de óleo residual. Com o óleo, através de uma reação de transesterificação - junção de óleo vegetal com álcool e catalizadores -, obtêm-se o biodiesel.

Produção de biogás diminui poluição atmosférica

O pesquisador da Embrapa Airton Kounz fala
sobre produção de biogás (Foto: Divulgação)

Resíduos menos óbvios e até mesmo poluentes às vezes podem ser utilizados na produção de energia. É o caso das fezes dos porcos, que podem contaminar lençóis freáticos. Uma boa solução já colocada em prática por fazendeiros é a utilização desta energia gerada na própria fazenda. Desta forma, evitam-se prejuízos ao meio ambiente e diminuem-se os custos da suinocultura.

O primeiro passo é investir em biodigestores – reservatório onde acontece a fermentação da biomassa, dando origem ao biogás –. De acordo com o pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Airton Kunz, há desde biodigestores rudimentares, as chamadas lagoas cobertas, até sistemas tecnologicamente mais complexos.

A fermentação, também chamada de digestão anaeróbia, é o processo no qual algumas espécies de bactérias, na ausência de oxigênio, atacam a estrutura de materiais orgânicos para produzir compostos simples (como o metano) e extrair energia para o seu próprio crescimento. “Esse biogás produzido contém gás metano (CH4), um combustível que tem capacidade de geração de calor, podendo ser convertido em energia elétrica. O esterco de suíno é bem útil, por ser altamente biodegradável”, explica Kunz. A queima de gás metano inerente ao processo colabora, também, para a redução do aquecimento global, já que o dióxido de carbono liberado na atmosfera é 21 vezes menos nocivo do que o CH4.

 

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