sábado, 11 de fevereiro de 2012

No rumo dos efeitos climáticos


Nada como uma mudança de rumo nos planos para nos fazer refletir. No último domingo, meu voo de volta ao Brasil foi cancelado por causa de uma nevasca que atingiu a Europa nos últimos dias, matando mais de 300 pessoas, deixando mais de 1,8 mil pessoas internadas apenas na Ucrânia, um dos países mais atingidos, e registrando temperaturas de -22° C na Holanda, a mais baixa dos últimos 27 anos.

Naquele instante, eu era testemunha de um efeito climático extremado que, assim como altas temperaturas, chuvas excessivas e outros efeitos naturais descontrolados, têm trazido graves consequências para populações em diversos países, especialmente para pessoas em condições mais vulneráveis.

Toda aquela situação de muito frio, tumulto nos aeroportos e vontade de voltar ao Brasil me fez refletir sobre o propósito daquela viagem. Foram duas semanas focadas nas discussões da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, que se realizará no Rio de Janeiro no próximo mês de junho.

O que me parece é que, assim como o que tem ocorrido com os alertas sobre as mudanças climáticas e seus dramáticos efeitos, líderes de Estados e donos do poder ainda não quiseram realmente agir para mudar drasticamente os rumos da economia e buscar padrões mais sustentáveis de produção, de consumo e de uso dos recursos naturais, para evitar um colapso global.

Sabemos que precisamos de um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável. Os discursos políticos dizem isso. Sabemos que precisamos por fim a práticas predatórias, como a sobre-exploração de florestas e a sobre-pesca nos mares, e que devemos focar investimentos em energias mais limpas e renováveis. Mas, por algum gargalo, ainda não conseguimos avançar nas mudanças na velocidade que deveríamos e poderíamos.

Nesse debate sobre desenvolvimento sustentável, a sensação é que seguimos em busca de soluções e respostas que já temos, mas que ainda não fomos capazes de colocar em prática. De olho na Rio +20 e refletindo sobre esses 20 anos que separam essa conferência da Eco-92, questiono: será que conseguiremos imprimir reais mudanças no nosso modelo de sociedade daqui para frente? A pergunta fica no ar.

*Renata de Camargo é coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace

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