Nada como uma mudança de rumo nos planos para nos fazer refletir. No último domingo, meu voo de volta ao Brasil foi cancelado por causa de uma nevasca que atingiu a Europa nos últimos dias, matando mais de 300 pessoas, deixando mais de 1,8 mil pessoas internadas apenas na Ucrânia, um dos países mais atingidos, e registrando temperaturas de -22° C na Holanda, a mais baixa dos últimos 27 anos.
Naquele instante, eu era testemunha de um efeito climático extremado que, assim como altas temperaturas, chuvas excessivas e outros efeitos naturais descontrolados, têm trazido graves consequências para populações em diversos países, especialmente para pessoas em condições mais vulneráveis.
Toda aquela situação de muito frio, tumulto nos aeroportos e vontade de voltar ao Brasil me fez refletir sobre o propósito daquela viagem. Foram duas semanas focadas nas discussões da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, que se realizará no Rio de Janeiro no próximo mês de junho.
O que me parece é que, assim como o que tem ocorrido com os alertas sobre as mudanças climáticas e seus dramáticos efeitos, líderes de Estados e donos do poder ainda não quiseram realmente agir para mudar drasticamente os rumos da economia e buscar padrões mais sustentáveis de produção, de consumo e de uso dos recursos naturais, para evitar um colapso global.
Sabemos que precisamos de um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável. Os discursos políticos dizem isso. Sabemos que precisamos por fim a práticas predatórias, como a sobre-exploração de florestas e a sobre-pesca nos mares, e que devemos focar investimentos em energias mais limpas e renováveis. Mas, por algum gargalo, ainda não conseguimos avançar nas mudanças na velocidade que deveríamos e poderíamos.
Nesse debate sobre desenvolvimento sustentável, a sensação é que seguimos em busca de soluções e respostas que já temos, mas que ainda não fomos capazes de colocar em prática. De olho na Rio +20 e refletindo sobre esses 20 anos que separam essa conferência da Eco-92, questiono: será que conseguiremos imprimir reais mudanças no nosso modelo de sociedade daqui para frente? A pergunta fica no ar.
*Renata de Camargo é coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace
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