segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Crise não deve impedir ação pelo clima, diz negociador do Brasil

Pershing: emergentes precisam entrar num novo
compromisso.(Foto: Dennis Barbosa/G1)
 
O negociador-chefe do Brasil na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 17), embaixador André Corrêa do Lago, disse nesta segunda-feira (28), em Durban, na África do Sul, que a crise econômica vivida por países desenvolvidos não deve ser desculpa para que as negociações climáticas não avancem.
A redução das emissões de gases-estufa é vista como associada ao desaquecimento econômico. Por isso, na atual conjuntura, discute-se que haja ainda menos ambiente para os países ricos buscarem  um compromisso climático.
A crise não deveria ser uma desculpa para menos ambição e menos ação”, disse Corrêa do Lago. “Deveria ser uma oportunidade, porque todos sabemos que estamos (o mundo) indo na direção errada em termos ambientais”, apontou.
Enquanto os países em desenvolvimento empurram a negociação no sentido da renovação do Protocolo de Kyoto e do estabelecimento do “fundo verde”, que, segundo os acordos de Cancún (COP 16) deve oferecer US$ 100 bilhões anuais de financiamento de ações de redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas a países pobres até 2020, os países ricos exigem que as nações emergentes também assumam compromissos.
O Brasil integra o bloco G77+China (que, além do país asiático, inclui países em desenvolvimento) e vai apoiar o que esse grupo decidir consensualmente. Entre as nações representadas estão, por exemplo, as africanas e os pequenos países insulares que podem desaparecer se o nível do mar subir muito.
A Europa fala de um segundo período do Protocolo de Kyoto, mas dentro de um plano para um novo acordo vinculante mais abrangente, que inclua também as nações em desenvolvimento, para ser negociado até 2015, com validade prazo de ratificação interna em cada país até 2020. Seria uma novo “mapa” de negociação, como dizem os diplomatas. “Precisamos fortalecer Kyoto”, disse nesta segunda-feira (28) o negociador que representa a presidência temporária polonesa da União Europeia na COP 17, Thomasz Chruszczow.
Os EUA, que não têm compromisso para reduzir suas emissões, também voltaram a questionar a adesão dos emergentes a um acordo vinculante de longo prazo, para 2050, por exemplo. O negociador dos EUA, Jonathan Pershing, disse que trabalhar com o panorama de 2020 dá a falsa impressão que um plano implementado até lá resolverá o problema das mudanças climáticas e ressaltou como fundamental a inclusão de todos.
“Um acordo vinculante para depois de 2020 só é possível se "envolver todos os 'players' relevantes’”, disse  - um recado principalmente para a China, que desbancou recentemente os americanos como o maior emissor de gases-estufa , mas também a outros países, como o Brasil.
A COP 17 começou nesta segunda em Durban. O presidente sul-africano Jacob Zuma abriu oficialmente da conferência.  Delegados de mais de 190 países terão até o dia 9 de dezembro para avançar os acordos da última reunião, em Cancún.
Zuma destacou os dois principais pontos a serem definidos: o funcionamento do “fundo verde”, por meio do qual os países ricos deverão ajudar os pobres a enfrentarem o aquecimento global, e um segundo período do Protocolo de Kyoto, acordo pelo qual países desenvolvidos se comprometem a reduzir suas emissões de gases-estufa, que expira em 2012.
“Com uma liderança competente, nada é impossível aqui em Durban”, disse o presidente sul-africano. Apesar do tom moderado, o líder lembrou a todos as consequências desastrosas das mudanças climáticas previstas para muitos países em desenvolvimento. “A agricultura em vários países africanos pode cair até 50% até 2050, o que pode causar sérios problemas de fome”, disse.
Christiana Figueres, secretária-executiva da ONU para mudanças climáticas, mostrou confiança na liderança sul-africana rumo a avanços na COP 17: “A  África do Sul mostrou com o fim do Apartheid  (regime de segregação racial) que é um exemplo nas negociações para melhorar a vida das pessoas”. Assim como Zuma, ela destacou que “uma solução para o Protocolo Kyoto é fundamental”.
A presidência da COP 17 ficará a cargo da sul-africana Maite Nkoana-Mashabane.
Mais do que buscar um avanço nas negociações, a COP será importante para evitar um retrocesso: o Protocolo de Kyoto, único acordo existente segundo o qual a maioria dos países desenvolvidos (os Estados Unidos, segundo maior emissor, não participam porque não ratificaram internamente o acordo) têm metas de redução das emissões, expira em 2012 e, se não for estendido, não haverá nada em seu lugar.


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